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Os Filhos das Estrelas Perdidas

Há crianças que nascem com os olhos cheios de universos. Elas observam o mundo ao redor com uma profundidade que desafia a lógica e, desde o início, parecem habitar dois mundos: o presente, que as exige e as delimita, e o vasto reino do inconsciente, que as acolhe como viajantes atemporais. São crianças que carregam o peso de eras não vividas, como se tivessem nascido antes mesmo do tempo começar a contar. No fundo de suas mentes, pulsa a sensação de que não pertencem a este lugar, e a razão é simples: não pertencem mesmo.

Essas crianças, filhos e filhas das estrelas, trazem consigo uma bagagem emocional e psíquica que a maioria das pessoas não consegue compreender. Elas não apenas sentem as coisas, mas vivem sentimentos que parecem não ter fim. Na superfície, podem parecer distraídas ou desajustadas, mas dentro delas há uma dança eterna entre o conhecido e o desconhecido, entre o real e o imaginário. Elas existem em um lugar onde as fronteiras entre a vigília e o sonho são quase inexistentes.

O mundo concreto, para essas crianças, é muitas vezes opressivo. Elas se retraem, se escondem em suas próprias mentes, criando universos internos onde podem existir sem as regras rígidas e limitantes da realidade. O espaço físico não parece acomodar a imensidão de suas almas. Elas observam as coisas com um ar distante, como se estivessem sempre um passo à frente ou atrás, nunca realmente no presente.

A Dança do Inconsciente

Para essas crianças, o inconsciente não é um território misterioso e desconhecido, mas sua verdadeira casa. Elas habitam as profundezas da psique com a mesma familiaridade com que outras crianças correm pelos parques. São elas que compreendem, de maneira inata, que a mente humana é vasta e indomável, muito além dos limites do que lhes ensinam na escola. Sonhos, fantasias e devaneios não são fugas para elas; são realidades paralelas, lugares onde encontram conforto e refúgio.

Enquanto os adultos ao redor delas tentam rotular seus comportamentos, essas crianças já sabem — de maneira inconsciente e instintiva — que as palavras não bastam. Não se encaixam em moldes simples como “hiperativo”, “distraído”, “autista”. São mais do que isso. Elas sabem que esses rótulos são apenas tentativas frustradas de compreender algo muito mais profundo: o movimento fluido e infinito de suas psiques.

Quando olhamos para essas crianças, vemos um reflexo do que temos medo de reconhecer em nós mesmos: que somos todos feitos de sonhos e escuridão. Mas, ao contrário dos adultos, elas não têm medo desse espaço interior. Elas navegam por ele com uma destreza silenciosa. Suas mentes são como oceanos — profundas, misteriosas, e cheias de vida que raramente chega à superfície.

O Peso da Sensação de Não Pertencimento

Essas crianças nascem com uma sensação constante de que algo está errado. Não com elas, mas com o mundo ao redor. Desde cedo, percebem que o mundo lhes pede coisas que não conseguem entregar. São chamadas a se adaptar, a se moldar, a se transformar em algo que não são. Mas, em suas almas, existe uma resistência inata. Elas sabem, de forma inconsciente, que nasceram para algo maior, algo que o mundo ao seu redor ainda não está pronto para entender.

O sentimento de não pertencimento, para essas crianças, não é uma experiência isolada. Está enraizado em cada pensamento, em cada emoção. Elas olham para seus colegas de escola e se perguntam por que não conseguem se sentir à vontade nas interações sociais. O mundo exterior parece sempre desconectado de seu mundo interior, como se vivessem em uma realidade paralela que ninguém mais pode ver. As regras sociais, os comportamentos esperados, tudo isso soa como uma língua estrangeira, um código que não conseguem decifrar.

No entanto, não é a rejeição do mundo que as define, mas sua profunda conexão com algo além. Essas crianças não pertencem a este lugar porque pertencem a todos os lugares. Elas carregam dentro de si fragmentos de eras passadas, memórias de vidas não vividas, vislumbres de futuros que ainda estão por vir. Em seus corações, há uma sabedoria antiga, uma consciência de que a vida é mais do que aquilo que os olhos podem ver.

O Silêncio e o Barulho

Na psique dessas crianças, o silêncio é ouro. Elas encontram refúgio no som do vento, nas folhas que caem suavemente no chão, no murmúrio da chuva contra as janelas. Esses sons sutis falam com elas de maneiras que a voz humana não consegue. Há uma qualidade meditativa em sua presença, uma tranquilidade que desmente a confusão e o caos interno que muitas vezes sentem. Elas se conectam com a Terra, mas de uma maneira diferente, mais silenciosa e íntima. O barulho do mundo exterior — o falatório incessante, as demandas de atenção — é demais para suas sensibilidades. Para elas, o silêncio é uma forma de respirar.

Quando crianças assim encontram quietude, sua mente se expande. Elas exploram territórios internos que outros nunca ousariam. Seu inconsciente é ativo, vibrante, mas sutil, criando realidades alternativas onde elas se encontram completas. E é justamente aí, nesse espaço silencioso, que encontram o que os outros chamariam de magia. São visionárias, capazes de perceber nuances que passam despercebidas pelos olhos comuns.

A Profundidade da Psique

Dentro dessas crianças, o inconsciente flui livremente. Ele não é um estranho, uma sombra, mas uma presença familiar, sempre à espreita. Elas percebem os símbolos escondidos nas palavras, nas ações e até nos olhares das pessoas ao seu redor. E, ainda que não possam articular isso em palavras, sabem que há mais no que veem do que aparenta.

Essas crianças são movidas por arquétipos, por símbolos que falam diretamente com sua alma. Elas entendem, de maneira profunda e instintiva, o ciclo de vida, morte e renascimento. Sem nunca ter aprendido, elas sabem que tudo no universo é cíclico, que o tempo não é linear. Seus sonhos não são apenas sonhos, mas viagens astrais, incursões pelo vasto território da mente coletiva. Elas visitam lugares onde o passado, o presente e o futuro se encontram, lugares onde a lógica perde seu poder e o símbolo reina soberano.

O Chamado do Despertar

À medida que crescem, essas crianças muitas vezes sentem o peso do mundo. É como se suas almas soubessem que estão aqui para algo maior, para algo que ainda não podem compreender plenamente. Elas carregam consigo o peso de um destino que ainda está por ser revelado. E, embora se sintam deslocadas e solitárias, há uma parte delas que sabe que, em algum momento, o mundo acordará para o que elas sempre souberam.

Essas crianças, filhos das estrelas, não são apenas diferentes. Elas são as precursoras de um novo tempo. Elas carregam consigo a semente de algo maior, algo que ainda está além da compreensão da maioria. E, enquanto crescem e enfrentam os desafios de um mundo que não as entende, elas continuam a sonhar, a explorar os vastos territórios de suas mentes. Sabem, no fundo, que sua jornada não é em vão. São os viajantes do tempo, as almas antigas que vieram para nos lembrar que o universo é muito mais vasto e misterioso do que jamais poderemos compreender.

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